Os portugueses não se dão com intimidades. Uma boa prova disso são os inúmeros romances, livros de poesia existentes e, em comparação, a falta de diários, autobiografias, memórias. Tirando um ou outro autor, poucos são aqueles que se arriscam na escrita intimista. Clara Rocha procurou desmistificar esta questão num livro chamado Máscaras de Narciso – Estudos Sobre a Literatura Autobiográfica em Portugal (Almedina, 1992). No entanto, a literatura autobiográfica portuguesa está longe dos parâmetros da literatura autobiográfica anglo-saxónica, por exemplo. É claro que a comparação é escusada, mas é reveladora. Os estudos sobre a questão também escasseiam. Não é de estranhar: a literatura autobiográfica sempre foi considerada uma literatura menor, apesar de alguns autores – Miguel Torga, Vergílio Ferreira, Ruben A. – terem parte da sua obra literária dedicada à literatura autobiográfica (Ruben A. é disso exemplo). Outro exemplo, para o facto dos portugueses não se darem com intimidades, são as penosas descrições do acto sexual em alguns dos mais recentes romances portugueses. Poucos são aqueles que conseguem escrever sobre sexo em Portugal. Poucos são os que conseguem não cair no ridículo de uma descrição despropositada e desproporcionada do acto sexual. O recurso a adjectivos e verbos muito pouco ortodoxos contribuem bastante para isso. A verdade é que não existe um verdadeiro imaginário sexual em Portugal.
2 comentários:
isso julgas tu.
fep
Claro que existe um imaginário, e bem imaginativo. Um simples exemplo é o excelente poema acima. Os light é que sofrem dessa e das outras faltas todas.
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