A necessidade de um halo metafísico na palavra poética não é, quanto a mim, assim tão necessário. Às vezes é impedimento para o fruir da poesia: «a mais velha ideia ainda em voga é/que se não consegues entender um poema é/quase certo que é/um bom poema.» (Charles Bukowski). Socorri-me destes versos do poeta norte-americano para exemplificar uma ideia que ainda hoje perdura entre nós. Tal ideia, muitas vezes, degenera em preconceito – algo que é muito feio em poesia, pois a poesia é tudo menos preconceituosa. Não me revejo na ideia de que a palavra poética deva cortar com a representação da realidade, procurando, dessa maneira, transgredir. Mas também não me revejo na ideia de que só a realidade pode ser transgressão. E não me revejo na ideia de que a representação da realidade é sinónimo de segurança, tranquilidade, certeza. Haverá algo mais inseguro, intranquilo e incerto do que a realidade?
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