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Leitor, vou-te contar um segredo. Sou um burguês. Repara bem que é diferente de aburguesado. Nunca participei numa revolução e nunca tive verdadeiros ideais. Por isso nunca me aburguesei, ao contrário de outros que pregavam a morte da classe burguesa. Nasci burguês. Sou burguês. E aposto, leitor, que tu ou és uma coisa ou outra. Repara: não dispensas a internet e quanto mais rápida melhor, certo? Provavelmente não dispensas, tal como eu, o conforto de um bom sofá. Aposto que não és capaz de tomar duche de água fria sem antes reclamar, mesmo que seja baixinho para dentro de ti. Vês? Aposto que quando vês um sem-abrigo não lhe dispensas uma moeda. Aposto que, às vezes, até mudas de passeio e baixas os olhos. Incomodam, não é? Aposto que já disseste muitas vezes que isto está difícil, que os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres, enquanto esvazias o prato frente à televisão. É tão fácil falar de barriga cheia, não é?

1 comentário:

Anónimo disse...

deixa estar que és um burguês explorado, pá.
Mas, digo-te, é pior estar de barriga cheia e não falar, do que tê-la cheia e ficar calado, e tu sabes bem disso, é que o que está mal não é comer, mas sim não poder fazê-lo.
Também não dispenso a internet, mas quanto mais livre melhor. O sofá e a televisão já dispensei, mas também não são o maior problema, digo-te já.
Aliás, isso de seres burguês, não estarás a ver mal as coisas?
Não conheço muitos professores alugados (ia a dizer contratados, mas pareceu-me ridículo) que sejam patrões ou rendeiros.
Não custumo dizer "que isto está difícil", vou mais pelo "isto é difícil" e julgo que se um dia deixar de ser é só por que nos acomodámos.
Podes achar-te burguês, mas, digo-te, fazes apenas parte da multidão: com sofá ou sem sofá, com abrigo ou sem abrigo, és oprimido, explorado e podes ter muitas ou poucas coisas para te alienares, mas fazes parte dos muitos, não dos poucos. É claro que há graus, níveis, entre a miséria da multidão, mas somos todos a mesma classe. Enquanto não houver essa consciência (ia dizer: nada muda) seremos mais fracos.

Abraço.
Pedro