José Gil, no livro Portugal, Hoje – O medo de existir, defende que Portugal é o país da não-inscrição. O autor define inscrição como tudo aquilo que produz real e que se inscreve nesse mesmo real. Assim, segundo este autor, em Portugal pouco ou nada se inscreve, pouco ou nada produz real.
Desta maneira, talvez se entenda melhor o facto de uma revolução como o 25 de Abril não ter sentado no banco dos réus 50 anos de ditadura. A impunidade é total e absoluta. Quantos agentes da PIDE foram julgados e condenados pelos crimes que cometeram? Não nos podemos esquecer que muitos desses agentes torturaram e mataram pessoas, mas hoje são feitas biografias sobre alguns desses agentes. Onde estão os julgamentos dos responsáveis pela irresponsabilidade que foi a Guerra Colonial? Como se entende que um ditador como Salazar tenha sido o vencedor, já em plena democracia, de um “concurso” de popularidade? Como se entende que um ex-ministro da educação do Estado Novo – que, por muito mérito que possa ter, pactuou com um regime ditatorial – tenha um programa de televisão onde conta estórias sobre Portugal, sendo considerado por muitos como um grande e brilhante comunicador, quando tem no seu currículo a primeira (e única) carga policial sobre estudantes alguma vez ordenada por um ministro da educação?
Ora, o Portugal de hoje é reflexo do Portugal de ontem, isto é, de 50 anos de ditadura que não foi julgada por uma revolução. Repito: re-vo-lu-ção. Na realidade, a impunidade de um ditadura foi legitimada por uma revolução que instalou uma democracia.
É claro que não podemos esquecer que a revolução de Abril foi festejada e recebida de braços abertos, apesar da incerteza dos primeiros anos e da possibilidade de ela ser apenas «uma simples mudança de cenários gastos que não alteraria o pacatíssimo e delicioso viver à-beira mar plantado» (Eduardo Lourenço). No entanto, passados todos estes anos, essa possibilidade é hoje quase uma certeza.
Desta maneira, talvez se entenda melhor o facto de uma revolução como o 25 de Abril não ter sentado no banco dos réus 50 anos de ditadura. A impunidade é total e absoluta. Quantos agentes da PIDE foram julgados e condenados pelos crimes que cometeram? Não nos podemos esquecer que muitos desses agentes torturaram e mataram pessoas, mas hoje são feitas biografias sobre alguns desses agentes. Onde estão os julgamentos dos responsáveis pela irresponsabilidade que foi a Guerra Colonial? Como se entende que um ditador como Salazar tenha sido o vencedor, já em plena democracia, de um “concurso” de popularidade? Como se entende que um ex-ministro da educação do Estado Novo – que, por muito mérito que possa ter, pactuou com um regime ditatorial – tenha um programa de televisão onde conta estórias sobre Portugal, sendo considerado por muitos como um grande e brilhante comunicador, quando tem no seu currículo a primeira (e única) carga policial sobre estudantes alguma vez ordenada por um ministro da educação?
Ora, o Portugal de hoje é reflexo do Portugal de ontem, isto é, de 50 anos de ditadura que não foi julgada por uma revolução. Repito: re-vo-lu-ção. Na realidade, a impunidade de um ditadura foi legitimada por uma revolução que instalou uma democracia.
É claro que não podemos esquecer que a revolução de Abril foi festejada e recebida de braços abertos, apesar da incerteza dos primeiros anos e da possibilidade de ela ser apenas «uma simples mudança de cenários gastos que não alteraria o pacatíssimo e delicioso viver à-beira mar plantado» (Eduardo Lourenço). No entanto, passados todos estes anos, essa possibilidade é hoje quase uma certeza.
texto originalmente publicado aqui.
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