Pensemos, um pouco, sobre a chamada poesia hermética. Afinal, o que é isso de poesia hermética? Peirce, quando se refere à clareza ou não das ideias, dá um exemplo de terminologia filosófica: «uma ideia clara é definida como uma que é apreendida de tal forma que será reconhecida onde quer que se encontre, de modo que nunca será confundida com outra. Se esta clareza faltar, dir-se-á então que é obscura». Apesar de Peirce dar este exemplo para criticar uma certa falta de clareza de alguns lógicos, o mesmo não será feito para criticar uma certa falta de clareza de alguns poetas. Contudo, é nesta questão da clareza que surge toda a polémica em torno das actuais formas da poesia: se um poema não é suficientemente claro ele é obscuro, logo hermético; quando um poema é demasiado claro acontece o oposto, com a desvantagem de poder ser considerado como um não-poema (o que não deixa de ser poético) ou poesia de urinol (o que também tem a sua piada).
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