Kate Bush - Running Up That Hill
A primeira vez que falei das luzes da cidade foi sem conhecer as luzes da cidade. Já tinha lido sobre elas, mas não é a mesma coisa. Os livros podem evocar muitas coisas e elas não passam disso mesmo: de meras evocações. Evocar é aquilo que o homem melhor sabe fazer. Por tudo e por nada evocamos ou algo ou alguém. No meu caso eram as luzes da cidade, vistas através do vidro de um carro em movimento. Tenho um amigo que dizia que a melhor banda sonora para Lisboa ao fim do dia era Dead Can Dance. Durante muito tempo concordei com ele. Até certo dia. A cabeça ia encostada ao vidro do carro depois de uma noite no Bairro Alto nos idos de 1998. Não era o fim do dia, era antes o fim da noite, mas também não era o princípio do dia – não sei se me faço entender – e a confusão que ia na minha cabeça era alguma: um namoro que tinha deixado de resultar ou de ter piada ou algo do género. O carro avançava pela cidade : «And if I only could,/I'd make a deal with God,/And I'd get him to swap our places/Be running up that road,/Be running up that hill,/With no problems...». Deus começava a ser algo que não fazia muito sentido. O carro lá seguiu o seu caminho. E penso que, até hoje, ainda não parou.
1 comentário:
O «Hounds of Love» é o álbum de família, na Radar, esta semana. Por isso, curiosamente ouvi isto há umas horas, no carro. Pensei: é mesmo uma grande canção.
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