Do pessimismo


Há aquela frase de Beckett, muitas vezes citada, sobre falhar. Ela faz todo o sentido, mas custa a engolir, embora a cerveja ou o vinho tinto ajudem bastante. Às vezes interrogo-me: será que os outros me consideram um falhado? É que os outros têm sempre uma ideia menos “falhada” de nós, como nós temos deles. Daí até ao optimismo é um salto. Acredito que há uma predisposição genética para uma pessoa ser ou não pessimista. Só assim compreendo o facto de muita boa pessoa que eu conheço (e que passou por muito na vida) continue optimista*. É claro que podemos analisar o lado optimista de ser pessimista. Exemplo: um pessimista espera sempre o pior e, muitas vezes, chega a não esperar nada de nada. Tudo aquilo que recebe é uma vitória, por mais pequeno que seja. No entanto, isto é um falso optimismo. Porquê? Porque no fundo um pessimista sabe que falha sempre. A aparente vitória é apenas mais uma derrota, pois ele sabe que conseguiria mais se, ao menos, fosse mais optimista. Mas numa coisa o pessimista ganha: na coerência. Um pessimista é sempre coerente no seu pessimismo (pode é ser mais ou menos pessimista: mas é sempre pessimista). Já o optimista não: ora é optimista ora é pessimista – pois todo o optimista tem um momento de fraqueza – e, assim, nunca sabemos o que esperar dele.

* talvez seja Fé, mas isso é outra conversa.

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