Do desejo




Gosto de pensar que sou um gajo porreiro. Há, de certeza, quem discorde. Terão, sem dúvida, as suas razões, pois quando quero consigo ser um bom filho-da-mãe. Paciência: um gajo não é perfeito. Gosto da minha família, da minha namorada. Gosto de conviver com os meus amigos, ir beber um copo ou meia dúzia deles. No entanto, tenho uma vontade enorme de ir viver para um local remoto, de preferência na Noruega, e deixar tudo: família, namorada, amigos, toda a gente que conheço. Só não o faço pela simples razão de ser um cobarde. Sim, sou um cobarde. Ou melhor: um cobardola. Sim, cobardola define-me melhor. E pergunto: quem nunca foi um cobardola que levante o braço. Eu admito que sou. Às vezes ajuda-me a lidar com a situação. Outras vezes só piora as coisas. E é nessas alturas que mais vontade tenho de partir. Conseguem imaginar?




2 comentários:

Anónimo disse...

Eu também pensei, durante muitos anos, que não conseguir deixar tudo e ir viver para a Noruega ou a Islândia ou Polo qualquer coisa era uma cobardia, era render-me ao conforto da família, do país, da língua,era ser um falhanço. Mas depois pus-me a pensar e vi que as coisas não eram assim tão simples.
Não será a verdadeira cobardia querer ir embora e deixar os problemas para trás? Não será isso que é fácil? Não será mais corajoso ficar e lidar com aquilo que temos, bom ou mau, com a rotinazinha de todos os dias e mesmo assim conseguirmos aguentar a vida?
Não consigo responder. Mas a resposta já me pareceu mais clara.Talvez a cobardia seja, como dizes, ficar e não querer mudar. Mas talvez isso também seja, afinal, a verdadeira coragem.
Este comentário ficou muito piroso, de modo que me vou ficar por aqui, mas isto era o que eu queria dizer, espero que faça sentido.

Anónimo disse...

este post é excelente!

para mim (que saí de portugal há 8 anos) a verdadeira cobardia é ficar e não partir. partir é fácil, resistir no mesmo sítio é que me parece um acto de coragem.