Fui ao talho. Queria comprar carne para grelhar. O talhante pegou num pedaço de carne e disse que era muito bom, de qualidade. Pegou na faca que lhe pareceu mais afiada e cortou-me um bife. Era um grande bife. Cheguei a casa, temperei-o com sal, ervas aromáticas, alho. Fiz as brasas. Deixei que elas esmorecessem um pouco, para que a carne grelhasse lentamente. A carne lá grelhou. Parecia suculenta, tinha boa cor, mas era rija como os cornos da vaca que a tinha dado. Pensei no talhante. Será que alguma vez leu um verso? É possível. Será que alguma vez escreveu um verso, um poema? É possível. Apenas sei que ele pegou na faca que lhe pareceu mais afiada, cortou um bife, entregou-me o bife, paguei e ele era rijo como os cornos. Tudo o resto que possa ter ocorrido entre as várias acções não me interessa.
3 comentários:
Sa próxima vez coloca flor de sal, só depois do bife estar grelhado!
foi um "truque" que a Margarida me ensinou, mas àquele pedaço de carne nem esse "truque" o salvava: era mesmo rijo!
abraço
E com certeza, por ter deixado esmorecer as brasas, o bife ainda ficou mais duro. As brasas devem estar muito vivas, bem perto delas a carne. Um a um minuto e meio de cada lado. Os dois lados devem ficar tostados, mas não queimados. Resta saber a altura desse bife: pelo menos da grossura de um dedo. A carne deve ficar mal passada por dentro, "saignante" como dizem os franceses. Claro, no fim o sal ou a flor de sal, melhor ainda. Um repouso de cinco minutos em lugar onde não arrefeça. Isto não obsta a que a carne não deve ser, mais que boa, excelente. Mas fica mais tenra, sendo dura já de si.
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