Primeira Antologia de Micro-Ficção Portugesa - Vários Autores



Não será inocente a publicação desta Primeira Antologia de Micro-Ficção Portuguesa. Nos últimos tempos assistiu-se à afirmação da chamada micronarrativa ou micro-ficção na literatura portuguesa. A criação da primeira revista portuguesa online (
Minguante) dedicada a este género é um bom exemplo. No entanto, é errado afirmar que a micronarrativa só agora começa a ser novidade, como alguns querem fazer ver, nomeadamente dando como exemplo algum do trabalho de Gonçalo M. Tavares. Como refere Henrique Manual Bento Fialho (no prefácio à antologia): «Terá sido com os surrealistas (…) que o género micronarrativo adquiriu alguma substancialidade.» (p. 13).

Com a selecção e organização de Rui Costa e André Sebastião, a Primeira Antologia da Micro-Ficção Portuguesa, reúne 22 autores: Alcides, Alexandre Au-Yong Oliveira, Fernando Dinis, Fernando Esteves Pinto, Fernando Gomes, Filipe Guerra, Henrique Manuel Bento Fialho, Inês Lourenço, João Carlos Silva, Luis Ene, Maria João Lopes Fernandes, Paulo Rodrigues Ferreira, Paulo Kellerman, Pedro Afonso, Pedro Amaral, Rafael Mota Miranda, Rui Almeida, Rui Costa, Rui Manuel Amaral, Rute Mota, Sara Monteiro e Sónia Duarte. Não deixa de ser interessante verificar que entre ilustres desconhecidos se encontram nomes com alguma visibilidade no panorama literário português, com obra reconhecida. E não deixa de ser interessante que só quatro autores (Alcides, Alexandre Au-Yong Oliveira, Fernando Gomes e Sara Monteiro) não venham do mundo dos blogues. O que também não é estranho, pois não podemos esquecer que a Internet desempenha um papel importante na divulgação da micronarrativa. Apesar desta suposta heterogeneidade, a antologia pontua-se pelo equilíbrio e pela qualidade de todos os textos, algo que muitas vezes não é conseguido em antologias.


De destacar os textos de Fernando Gomes (onde o humor é uma constante), João Carlos Silva (o absurdo kafkiano), Maria João Lopes Fernandes (textos leves, profundamente humanos) e Paulo Rodrigues Ferreira (um caso sério, humor negro q.b.). No entanto, é um texto de Henrique Manuel Bento Fialho que, devido à actualidade e pertinência do mesmo, aqui quero deixar:

O JORNALISTA

Um jornalista barricou-se na primeira página do jornal onde trabalhava. Não queria nada para si, reivindicava apenas um pouco de jornalismo na capa.

Esta antologia vem repor justiça neste género literário – que tantas vezes é ignorado e desvalorizado, nomeadamente em relação à poesia e ao romance – e junto daqueles que o cultivam e que, juntamente com ele, são ignorados e desvalorizados.


Primeira Antologia de Micro-Ficção Portuguesa (selecção e organização de Rui Costa e André Sebastião), V.N. de Gaia: Exodus, 2008, 144 pp.

6 comentários:

Paulo Rodrigues Ferreira disse...

Fico honrado com as tuas palavras, Manuel.

Abraço,

sara disse...

Não sei porquê, mas acho que está enganado...

...«E não deixa de ser interessante que só quatro autores (Alcides, Alexandre Au-Yong Oliveira, Fernando Gomes e Sara Monteiro) não venham do mundo dos blogues.»...

Sei de dois casos que não são desse modo: as mui ilustres Sónia Duarte e Rute Mota.
Quanto aos outros não os conheço pessoalmente e não sei o seu percurso.

Anónimo disse...

Edgar Degas disse certa vez que «é bom ser famoso desde que permaneçamos desconhecidos».

manuel a. domingos disse...

paulo: abraço

sara: não quis dizer que o percurso dos autores presentes na antologia seja o do mundo dos blogs, mas só quatro (os que referi) é que não têm blog (segundo a antologia). tanto sónia duarte como rute mota têm.

ilustre: não conhecia essa frase de Degas

sara disse...

mais uma vez: o que tu disseste foi que «só quatro autores não vêm do mundo dos blogues»
a forma como está escrito em português quer dizer que estas pessoas vêm do mundo dos blogues para acabarem por ser publicadas agora em papel, e não, como dizes, que têm blogues, porque isso acarreta outra formação sintáctica e outra utilização do conteúdo das palavras.
acho estranho, primeiro, que não saibas quem era tua editora do dn jovem, segundo que sendo uma pessoa atenta ao que se vai publicando (penso eu), não conheças os exemplares em que uma destas senhoras vê os seus textos publicados, assim como o orginal que foi lançado em Junho (Lisboa) pelo Luís Cristóvão.

Com os melhores cumprimentos,
sara costa

manuel a. domingos disse...

cara sara:

interpreta como quiseres as minhas palavras. talvez me tenha explicado mal. paciência. mas penso que agora já percebeste o que quis dizer. e o que quis dizer é que só quatro não têm blogue.

não estou atento àquilo que se publica e nunca soube quem era a minha editora no dn jovem. apenas enviava os textos e os mesmo ou eram publicados ou não. e a minha relação com o dn jovem (e com quam lá trabalhava) ficava por aí.

volta sempre