Sem rodeios
Ontem sentei-me decidido a traduzir mais alguns poemas de Charles Bukowski. Sentia-me bastante predisposto. E para traduzir Charles Bukowski é necessário estar bastante predisposto. Não é fácil entrar no mundo bukowskiano; como depois não é fácil sair dele. Uma vez tentei fumar um maço de cigarros, beber muita cerveja, engatar uma gaja, ir para a cama com ela e depois traduzir alguns poemas. Mas nem engatei uma gaja, nem traduzi um único poema. Tal não aconteceu pelo facto de estar bêbado, mas sim pelo facto de o mundo de Charles Bukowski ser mais que cigarros, bebida e quecas. Pensar que a escrita de Bukowski é só isso, é seguir o caminho mais fácil. Se a escrita de Charles Bukowski fosse apenas bebida, cigarros e quecas, ela teria muito menos leitores. Charles Bukowski escreve a vida, com todas as suas coisas boas, menos boas, más e mesmo más. Não vou dizer que é a vida que os leitores de Charles Bukowski procuram nos seus livros. Talvez muitos procurem mesmo os cigarros, a bebida e as quecas, tentando escapar às suas vidas rotineiras, chatas e aborrecidas. Talvez Bukowski seja a válvula de escape. Mas não sei se ela existe. É que por entre os cigarros, a bebida e as quecas, encontra-se a vida pura e crua, sem paninhos quentes. Ela está lá: pronta a esbofetear-nos, a dizer que não passamos de meros homenzinhos. A vida. Sem rodeios.
Ontem sentei-me decidido a traduzir mais alguns poemas de Charles Bukowski. Sentia-me bastante predisposto. E para traduzir Charles Bukowski é necessário estar bastante predisposto. Não é fácil entrar no mundo bukowskiano; como depois não é fácil sair dele. Uma vez tentei fumar um maço de cigarros, beber muita cerveja, engatar uma gaja, ir para a cama com ela e depois traduzir alguns poemas. Mas nem engatei uma gaja, nem traduzi um único poema. Tal não aconteceu pelo facto de estar bêbado, mas sim pelo facto de o mundo de Charles Bukowski ser mais que cigarros, bebida e quecas. Pensar que a escrita de Bukowski é só isso, é seguir o caminho mais fácil. Se a escrita de Charles Bukowski fosse apenas bebida, cigarros e quecas, ela teria muito menos leitores. Charles Bukowski escreve a vida, com todas as suas coisas boas, menos boas, más e mesmo más. Não vou dizer que é a vida que os leitores de Charles Bukowski procuram nos seus livros. Talvez muitos procurem mesmo os cigarros, a bebida e as quecas, tentando escapar às suas vidas rotineiras, chatas e aborrecidas. Talvez Bukowski seja a válvula de escape. Mas não sei se ela existe. É que por entre os cigarros, a bebida e as quecas, encontra-se a vida pura e crua, sem paninhos quentes. Ela está lá: pronta a esbofetear-nos, a dizer que não passamos de meros homenzinhos. A vida. Sem rodeios.
4 comentários:
Não podes viver ou escrever como o Buckowski - mas podes interpreta-lo, entrar em diálogo com a sua escrita, como já estás a fazer, ao traduzi-lo para a tua língua, o português. Eu não quero viver, nem escrever como o Buckowski, mas estou a adorar ler as tuas traduções. A minha vida não tem nada a ver com a do Buckowski, mas gostei de travar um diálogo com um poema seu, construindo a imagem que te enviei, " a casa" sobre a qual Bukowski escreveu, ´não é a minha casa, mas passei por lá graças a ti.
Maria Joaõ
mas precisas de buckwski para dar quecas...pobre poeta!
maria joão: plenamente de acordo.
anónimo: existe uma coisa que é a vida e outra que é a vida neste blog. por favor não confundir as duas.
Enxergar o mundo e a mim sem "paninhos quentes" é algo que estou a descobrir com Bukowski...
Apesar das diferenças, é algo que também existe em Pessoa:
"Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa."
Mas é o humor, em Bukowski, que permite a aceitação da vida tal como ela é.
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