O meu Bukowski
por Luís
Adoptei o meu semblante pensativo e principiei a profunda reflexão que o Manuel me encomendou. Não cheguei a qualquer conclusão. Também eu sei pouco sobre o Bukowski. O único Bukowski que conheço é o meu Bukowski, aquele que inventei em cada vez que o li. O meu Bukowski levanta-se às sete da manhã, come uns bocados de pão empapados em leite com café e deixa o nascer do sol por detrás de uma janela imaculada reflectir-se-lhe nos olhos; depois senta-se numa cadeira de madeira velha e escreve, disciplinado, das oito e meia ao meio-dia e meia, aproveitando esse espaço de tempo para dar a vida ao seu alter-ego e viver o que na verdade nunca se dispôs a viver. O Bukowski que inventei é um pateta triste, cansado e com preguiça de viver, que escrevia porque escrever é o mais fácil de fazer quando a vida é uma merda; disfarça a coisa. O meu Bukowski estava tão obcecado com a insignificância da vida que só escrevia sobre ela - dizem que os escritores só falam do que conhecem. As fodas, as matronas, as cervejas e os tremoços são só a fachada; dentro da casa havia o grande vazio. Não corresponde à verdade? Pois à boa maneira Chinaskiana: que se foda.
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