Lí por aí
«O estado mental da Nação
é de preguiça e desespero mole. A crítica sadia e fundamentada refugiou-se num buraco tão fundo do cérebro que não se encontra. A crítica só pode ser reparo educado, ou então laudatória, ou pelo menos compreensiva e, quando não o é, o crítico recebe a acusação fácil e preguiçosa de «falar por inveja», o argumento final dos imbecis. Se o povo diz «eles têm é inveja, palhaços!» (na defesa de La Féria), o intelectual diz o mesmo mas com uma linguagem vestida de roupa de marca, que aliás não vale o dinheiro que custa. Vai tudo dar ao mesmo. Não há crítica. A culpa é da televisão, e não é porque o homem português goste ou se divirta com os programas, mas porque tem de olhar para o ecrã para não ver a preguiça, o desespero e a tristeza de morte à sua volta. Já não há força para se desligar o botão da modorra que, pelos vistos, se encravou no cérebro. (Pensei isto tudo com a minha cabeça, até lhe dei uma forma pró-literária e pareço muito esperto, mas não, fico assim azedo sempre que o Benfica perde.)»
GAF, em O Vermelho e o Negro
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