Quarto Escuro #17
O pior dia para habitar a casa vazia é o domingo. O silêncio deixa de ser silêncio. Passa a ser uma outra coisa maior, impenetrável. Todos os ruídos são como pedras a cair num telhado de zinco: multiplicam-se. Tentas ler um livro, mas nem isso ajuda a passar o tempo. E começas a pensar. Pensas em tudo, em nada. Pensas no resto do dia que ainda falta passar. Em todos os ruídos que ainda vais ouvir. No silêncio impenetrável. O silêncio. O silêncio. Ligas a televisão. Som no máximo. O silêncio. O silêncio permanece. Não há maneira de o combater. É domingo. A casa está vazia.
1 comentário:
O domingo é uma ferida aberta que nunca deixamos sarar porque se repete indefinidamente. Pode ter a forma de um silêncio que nos abre ao meio, da chuva que nos cai no parapeito da janela ou do livro que se promete nos dedos. Mas isso é apenas a variação a confundir-nos porque o domingo é afinal e apenas o nome mal arranjado que inventámos para chamar ao fim do princípio e ao princípio do fim.
Enviar um comentário