Sem memória não há revolução que resista




Definitivamente, Portugal tem falta de memória. Pelo menos para a sua história mais recente. Tomemos um exemplo: a quantidade de museus existentes. Existe o museu do traje, o museu do fado, o museu da cortiça, o museu do pão, o museu da marinha, o museu de arte antiga, e por aí fora. Mas ainda não existe um museu do fascismo, ou se preferirem: um museu da luta antifascista. Não nos podemos esquecer que foram perto de 50 anos de fascismo e de consequente luta antifascista. Em Peniche existe uma espécie de museu, no Forte de Peniche, onde se recordam aqueles que ali estiveram presos. No entanto, e segundo me contaram, a antiga sede da PIDE/DGS é hoje um condomínio fechado, e a Prisão de Caxias continua hoje a ser uma Prisão, com umas condições deploráveis, dignas de um país do terceiro mundo (falo com conhecimento de causa pois fui professor no Estabelecimento Prisional de Caxias no ano lectivo de 2005/2006). Como querem então, os nossos políticos e os nossos intelectuais, que os jovens de hoje saibam o que foi o fascismo, se a memória desse fascismo foi ou está a ser apagada da nossa história? Depois admiram-se que Salazar ganhe num concurso de popularidade! O mais certo é uns virem pregar que o 25 de Abril é Evolução (lembram-se?), enquanto outros virão dizer que não senhor, o 25 de Abril é Revolução. E no meio disto tudo estará um jovem qualquer a perguntar a si próprio: estes “cotas” estão a falar do quê? Em alguns países do ex-bloco soviético muitos dos símbolos do antigo regime foram preservados. Em Budapeste, por exemplo, existe um jardim onde o turista pode ir tirar umas fotografias a estátuas de Marx, Lenine e Estaline. Estão lá, para que ninguém se esqueça. Em Portugal foi o contrário: chegou-se a Santa Comba Dão, decapitou-se a estátua de Salazar, e no final ainda se dinamitou. Mais importante do que preservar a memória do 25 de Abril, é preservar a memória de tudo aquilo que originou o 25 de Abril. Só assim uma revolução consegue resistir ao passar dos anos. Ao esquecimento.


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