A Emigração: fenómeno literário?
A Emigração é uma constante na história de Portugal desde do século XV. Emigra gente humilde que procura melhores condições de vida. Mas também emigram muitos intelectuais, escritores e artistas. A emigração tem inspirado muitos escritores. Mas será que existe uma literatura da emigração? E podemos falar da Emigração como fenómeno literário? A chamada literatura da emigração existe, principalmente, num registo muito especial: no entrosamento do jornalismo com a ficção, publicada em jornais e frequentemente reunida em livros, traduzindo o olhar atento do autor sobre os contextos onde coexistem culturas diferentes, onde é frequente a descrição de variadas facetas de uma vivência em terra estrangeira, o que leva por vezes à construção de obras literárias de maior fôlego, mais ou menos autobiográficas. Esta literatura da emigração é caracterizada por um forte desenraizamento em terra estrangeira, o que conduz a um confronto entre vários valores, atitudes e situações. O alto nível emocional das narrativas é também uma das características, onde o distanciamento entre o narrador e as personagens é quase impossível de estabelecer, pois ambos evoluem numa atmosfera afectiva carregada de angustiantes questões em relação a um futuro incerto. A incerteza, a mágoa do isolamento e a incompreensão social, são marcas notórias na escrita da literatura da emigração. No entanto, a vontade de vencer as várias circunstâncias adversas, a emoção das notícias vindas de longe, levam a uma vida que é fértil em emoções e sentimentos, por vezes contraditórios. A Emigração e a própria literatura da emigração, sempre estiveram ligadas a um certo sentimento de clandestinidade. Essa situação de clandestinidade estigmatizava o emigrante com a marca da ilegalidade marginal. Em relação à emigração como fenómeno literário a questão mantém-se. Embora exista entre nós uma tradição de literatura da emigração, mas em parte «delida ou mesmo esbatida pela sombra daquelas que se convencionou serem os “grandes temas” da portugalidade literária»*
(*)João de Melo, “L(usa)landeses, Portugueses e às Vezes...Americanos”, em prefácio a (Sapa)teia Americana de Onésimo Teotónio Almeida, Lisboa: Círculo de Leitores, 2001.
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