Quarto Escuro #4

Quem te disse que amar seria fácil? Ninguém. Mas tu acreditaste que sim, que seria. Saltaste de cabeça sabendo que a água só dava pela cintura. É claro que todas as vezes que o fizeste estavas consciente. Foi isso que nunca chegaste a perceber. Que razão? Que força, se é que se pode chamar força, te impelia a isso. Talvez fosse um chamamento. Sim, um chamamento. Talvez fosse isso que te levou vezes sem conta a mergulhar. E que chamamento era esse? Talvez o mesmo que todos os dias te coloca diante da folha de papel. Talvez o mesmo que te leva até ao corpo das mulheres que amaste. Esse sempre foi o teu refúgio, o lugar que mais vezes procuraste para descansar, para fugir às sombras que te procuravam, que procuravas. Esse era o teu refúgio para que a noite não doesse tanto. O que resta em ti desses corpos? Dessas noites? Só as palavras, o vulto dos corpos, uma ou outra música que ainda ecoa na ponta dos dedos. E o resto? O resto são imagens incompletas de luz.

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