Ó da Guarda!

Deixa-me ser assim

Deixa-me ser assim, assim humanamente,
que faça dos meus versos montanhas de promessas
com ondas de esperança, algumas já dispersas
no rio que me envolve na força da torrente.

Nasci para sofrer, e vivo a reflectir
orgulhos, preconceitos... e tudo que seduz,
mão sou senão a sombra em busca duma luz
no mundo que se esvai de mim sempre a fugir.

Sofri desilusões, agruras e torpezas;
nasci para ser pobre e quero ser assim,
o meu orgulho é este: ser só senhor de mim,
alheio a preconceitos, desprezando riquezas.

Deixai que a morte seja torre de marfim
e leve no seu manto meus sonhos de tristeza,
ficando só no tempo um facho de beleza
dos versos magoados, sentidos só por mim.

António Baptista (1921-2004): nasceu em Pinhel (distrito da Guarda). Residiu em Barcelos desde os 20 anos, onde foi bibliotecário da Biblioteca Municipal de Barcelos entre 1958-1965. Posteriormente foi convidado por Branquinho da Fonseca a dirigir a Biblioteca Itinerante nº12 da Fundação Calouste Gulbenkian. Faleceu em Barcelos em 19 de Abril de 2004.

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