Do Portugal profundo
José Riço Direitinho (1965) é um nome ainda pouco conhecido da nova literatura portuguesa, apesar da sua obra se encontrar traduzida na Alemanha, Holanda, Itália, Espanha, França, Inglaterra e Israel, e de o autor ter ganho o Prémio Ramón Gomez de la Serna, como o seu romance Breviário das Más Inclinações, que foi também finalista, em Portugal, do Grande Prémio de Romance e Novela da APE.
Uma das razões que podem explicar o desconhecimento deste autor por parte de um público mais vasto, será talvez o facto de o escritor escrever sobre um mundo que já poucos conhecem ou desejam conhecer: o mundo rural. No seu livro de estreia, A Casa do Fim (1992), podemos encontrar dez pequenos contos que falam disso mesmo: de um mundo rural por muitos desconhecido, onde as personagens têm nomes bíblicos (Eva, Tomé, Moisés, Abel, Caim, Tiago, João, Zebedeu, Ester, Marta), e onde a vida é comandada por mezinhas, maus-olhados, má-sina, amores infelizes. Outra característica é a presença constante da morte (o suicídio é recorrente), uma morte a que as personagens se entregam sem agravo, sabendo que faz parte do seu destino, destino que não se pode combater, pois só a elas pertence e nada há a fazer.
Alguns contos fazem lembrar aqueles presentes nos livros de Miguel Torga (Contos da Montanha e Novos Contos da Montanha). No entanto, estão impregnados de um halo de mistério, de misticismo, colocando de lado algum propósito moralizante que podemos encontrar nos contos de Torga. Outra característica que os distingue é o facto de as personagens de José Riço Direitinho não procurarem alterar o destino que lhes está traçado, pois sabem que nada podem fazer contra ele, ao contrário das personagens de Torga, que procuram fugir às tramas que o destino teceu, revoltando-se. Um bom exemplo dessa entrega ao destino é o conto Auto do Medo, em que a personagem principal sabe que terá que se suicidar tal como o seu pai, pois é esse o seu destino: «Não podia fugir: o cheiro acre a azeite tulhado trazia-lhe sempre à memória o cadáver do pai coberto de escuro pelas asas dos morcegos e pelas moscas» (p. 61). José Riço Direitinho é sem dúvida um nome a reter, não só pela qualidade da sua escrita, mas também pela verdade que encerra: um país que aos poucos está a desaparecer.
Sem comentários:
Enviar um comentário