VPV


Há vários dias que ando a ler Esta Ditosa Pátria* de Vasco Pulido Valente (VPV), onde se encontram reunidos artigos por ele publicados entre 1990-1997. Segundo o próprio autor, os artigos neste livro reunidos são «uma crónica do “cavaquismo”, isto é, da mudança e da resistência à mudança num país longamente “atrasado”.». VPV é tido por muitos como um pessimista e um “velho do Restelo”, com tiques conservadores adquiridos em Oxford (onde se formou) e no seio da sua família endinheirada onde não faltavam criadas de servir à mesa, criadas de quarto e criadas de cozinha. É, para muitos, alvo a abater, especialmente para uma certa esquerda que nele vê o diabo em pessoa. Apesar de tudo aquilo que se diz de VPV existem duas características que nele me agradam: escreve muito bem em Português (essa língua que dizem de Camões, expressão essa com a qual nunca concordei), e faz-me pensar. Sim, VPV faz-me pensar. Quer se goste ou não do estilo, VPV obriga a pensar. Ou a favor ou contra, tanto faz. Mas somos obrigados a pensar. Se tal não fosse não se entenderia o fenómeno que é VPV. Se ele fosse um “cronista” inócuo (como há tantos por esse Portugal fora), ninguém comentaria aquilo que ele escreve. O pior (ou melhor?) é que ele, de uma ou outra maneira, acerta sempre no sítio que mais dói. E é isso que enfurece e atrapalha a maior parte das pessoas que lêem VPV. Portugal, esse país que aprendemos a conhecer nos manuais de História, está muito longe do Portugal que VPV nos dá a conhecer e nos obriga a pensar. E é urgente conhecer e pensar Portugal. Pois todo o “mal” está aí: poucos são os portugueses que realmente conhecem e pensam Portugal. E aqueles que o fazem são criticados e menosprezados. VPV, à sua maneira, faz exactamente isso: pensa Portugal. Quem o lê (voluntária ou involuntariamente, concordando ou não) é obrigado, também, a pensar Portugal. E ninguém lhe pode tirar esse mérito.


* Vasco Pulido Valente, Esta Ditosa Pátria, Lisboa: Relógio D’Água, 1ª edição, 1997, 381 pp.

1 comentário:

godgil disse...

Manuel:

Quanto à necessidade de um VPV no espaço público, assino por baixo. Só é pena não haver mais. Até mesmo as incongruências e as contradições do historiador o tornam interessante. Um apanhado delas pode ser visto Aqui

Abraço