Ó da Guarda!

As perguntas

Não tem rosto, o Deus dos perplexos. Nem voz.
Nem arrependimento. Nem a alegria dos alegres
ou o medo da escuridão. Não posso dizer-vos como
se encontram os seus caminhos, se o melro poisa

nas hortas junto do rio, ao adivinhar a tempestade.
Deus predador, o nosso, prudente, interdito,
que desagrada ao canto mais simples. As nossas
pegadas ficam no deserto, aguardam a passagem

como um fantasma que se desprende da chuva.
Esta luz é incerta, balança sobre as varandas, ameaça
os dias, converte ou desarma todas as palavras certas,

todos os olhos abertos. Não tem rosto, o Deus dos
perplexos, não caminha nos precipícios, não arde
como a urze fitando o céu, não o comove a morte.

Francisco José Viegas: nasceu em Vila Nova de Foz Côa. Foi professor universitário e jornalista (nomeadamente director das revistas LER e Grande Reportagem). Actualmente é escritor e colaborador freelancer de vários jornais e revistas. É autor de diversos livros de poesia, de livros de viagem e de romances. Escreve no weblog A Origem das Espécies.

Sem comentários: