Ó da Guarda!
Alfa e Ómega
Eu sou o primeiro e último poeta.
A vida é ilimitada, não tem comportas
A separar o que de si é união essencial.
Eu sou o primeiro e último poeta.
Em mim falam os profetas,
Apostoliza Cristo
E se condensam as visões apocalípticas da última hora.
Eu sou o primeiro e último poeta.
Em vão tentareis fechar-me as portas,
Diminuir-me o estro ambicioso
E atirar-me pedradas surdas que eu não sinto.
Estou em cada minuto do dia
E em cada milénio da história.
Sou Cristo na ambição de tê-lo a falar por mim.
Sou eco de tudo o que se passa, a voz de tudo o que fica,
E, diluído como estou no Ser e nas coisas,
Mais não sou que um rastro vago de mim.
Vasco Miranda (1922-1976): pseudónimo de Arnaldo Cardoso Ferreira, natural da freguesia de Junça, concelho de Almeida, distrito da Guarda. Sacerdote católico, formou-se em Filosofia e Teologia pelo Seminário da Guarda, exercendo actividades paroquiais na freguesia de Mata Lobos, concelho de Figueira Castelo Rodrigo, e, mais tarde, a docência em Lisboa, no Colégio Manuel Bernardes. Encontra-se antologiado nas Líricas Portuguesas de Jorge de Sena, na Mão de Deus de José Régio e Alberto Serpa, na Antologia da Novíssima Poesia Portuguesa de E.M. Melo e Castro e Maria Alberta Menéres e na Antologia de la Nueva Poesia Portuguesa de Angel Crespo. Publicou: Luz na Sombra (1946); Alfa e Ómega (1951); A vida suspensa (1953); Dizer, Amar (de 1971 e que se trata de uma recolha de todos os livros do autor e mais um inédito).
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