Eu, Narciso


Quando em 2002 Américo Rodrigues (na altura Presidente da direcção do Aquilo Teatro) me convidou para publicar, a minha resposta foi imediatamente sim. Na altura tinha a necessidade de ver os meus poemas em forma de livro, era uma espécie de sonho que se tornava realidade. Antes só os tinha dito em público, numa iniciativa da Câmara Municipal da Guarda chamada «Lugar aos Novos», e vi cinco desses poemas publicados na Revista Cultural Praça Velha, editada pela Câmara Municipal da Guarda. Depois, foi o convite para escrever um poema para acompanhar uma instalação da exposição «A Memória das Coisas». Finalmente o convite para o livro. E ele lá foi publicado em Março de 2002. Na apresentação do livro foram ditas palavras bonitas sobre ele, foram lidos poemas em voz alta e até houve uma bailarina a dançá-los enquanto eram ditos. A noite acabou num bar da cidade da Guarda com os amigos mais próximos. Passados 5 anos o livro ali está na prateleira. É um livro escrito por alguém com menos cinco anos do que aqueles que tem hoje. Talvez isso se note. Talvez não. É um livro desequilibrado, onde existe um ou dois poemas dignos de terem esse nome, e um ou outro verso mais conseguido. As influências são notórias: Eugénio de Andrade e António Ramos Rosa (mais o primeiro que o segundo). Américo Rodrigues, no seu “discurso”, pediu para eu nunca renegar este meu primeiro livro, como outros poetas tinham feito com os seus primeiros livros. Eu ri-me. E disse que só os grandes poetas é que faziam isso.

3 comentários:

MJLF disse...

O tempo passa e coloca um filtro no que se escreve - fica um rastro, que é uma especie de reflexo do que fomos num determinado momento, o nossa relação com o mundo também se altera, o olhar distancia-se. Um livro ocupa pouco espaço, agora a pintura ou a escultura é mais complicado: já destrui imensos trabalhos porque não tinha onde os guardar, para além de não gostar deles na altura, mas registei-os em fotografia. Agora, quando olho as fotografias, fico com pena de alguns já não existirem. No entretanto, os amigos salvaram-me algumas coisas e guardam-nas.
Maria João

Anónimo disse...

nunca fui capaz de destruir um único poema ou texto que tenha escrito, mas como tu dizes é mais fácil arrumar papel do que escultura e pintura.

no entanto nunca entendi a razão pela qual os artistas plásticos destroiem as suas obras. eu aceito todas aquelas que estiverem para ser destruídas! não me importo nada de ficar com elas.

no ano passado recebi um quadro do qual gosto muito. quem me o ofereceu no outro dia perguntou-me: «se um dia eu te pedir para destruires o quadro tu fazes isso?». resposta pronta e imediata: é claro que não!

quanto ao tempo ser um filtro: acredito que é. contudo, muitas vezes, custa-me verificar se o tempo tem sido um filtro para aquilo que escrevo. provavelmente é. mas custa-me ver isso muitas das vezes.

Anónimo disse...

gostei dos seus poemas.