O meia-noite todo dia recomenda: Até que Deus é destruído pelo extremo exercício da beleza

Seis pessoas sentadas. Os seus corpos têm a palavra. O seu “devir junto” anuncia-se através de uma linguagem instável, um inglês com sonoridades singulares. As suas capacidades de comunicar são constantemente desafiadas. Eles navegam entre transparência e opacidade; exercitam-se por entre a tecelagem dos laços, suspensos por um fio. Como exercer uma postura teatral até ao esgotamento? Escolher um meio que nos é comum, mas que não dominamos. Olhar de frente as pessoas e convidá-las a seguir-nos quando partimos. O “aqui e agora” que procuramos está tão alongado que já não há pertença. Está arrasado. Recomeçamos sempre, sem nunca chegar ao mesmo lugar. “Até que Deus é destruído pelo extremo exercício da beleza” é a mais nova criação que a coreógrafa portuguesa Vera Mantero traz ao palco do Grande Auditório, hoje Sexta-feira dia 16 de Fevereiro, às 21.30 horas. Em Junho de 2006, Vera Mantero iniciou o processo de criação da sua nova peça que estreou em Novembro de 2006 no Le Quartz/Brest em França. Neste novo projecto, interpretado e co-criado por seis intérpretes, a coreógrafa conta com a já habitual colaboração artística de Nadia Lauro (concepção do espaço e figurinos) e do músico Boris Hauf. O processo de criação decorreu em Portugal, Montemor-o-Novo, n'O Espaço do Tempo, entre os meses de Junho e Setembro, e em Le Quartz, em Brest, durante o mês de Outubro. Depois de Brest, seguiram-se ainda no mês de Novembro as apresentações em Paris no Centro Pompidou, integradas no Festival d'Automne, e em Lisboa, na Culturgest. É no TMG a segunda apresentação em Portugal deste novo trabalho. Em “Até que Deus é destruído pelo extremo exercício da beleza” «as acções servem para entender, para reparar, para nomear, a língua virada do avesso, vibração (maravilhar-se), aparente esquecimento de que Deus, na verdade, nunca existiu, potência impotente, habitar um corpo aberto, (faz-nos sonhar), intimidade, liberdade, energia, não à disjunção. Nietzsche amava em Goethe a totalidade, dificuldades de toda a espécie devem ser bem acolhidas, razão+sensualidade+sentimento+vontade, minúcia e milagre. Desregulamento antropológico, encarnar os laços, potente impotência» – descreve a coreógrafa no texto de apresentação. Para Vera Mantero, a dança não é um dado adquirido, acredita que quanto menos o adquirir mais próxima estará dela, usa a dança e o trabalho performativo para perceber aquilo que necessita de perceber, vê cada vez menos sentido num performer especializado (um bailarino ou um actor ou um cantor ou um músico) e cada vez mais sentido num performer especializadamente total, vê a vida como um fenómeno terrivelmente rico e complicado e o trabalho como uma luta contínua contra o empobrecimento do espírito, o seu e o dos outros, luta que considera essencial neste ponto da história. A direcção artística do espectáculo é de Vera Mantero, a interpretação e co-criação é de Antonija Livingstone, Brynjar Bandlien, Loup Abramovici, Marcela Levi, Pascal Quéneau e Vera Mantero.

Texto: TMG

Foto: Alain Monot

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