Linguagem literária, literariedade, ambiguidade
Toda a questão da linguagem literária, enquanto fenómeno, baseia-se na seguinte noção: a criação literária constitui uma actividade que implica uma intenção e que detém em si uma finalidade. Inicia-se, desta maneira, um processo de comunicação e significação, que não pode ser reduzido às suas potencialidades comunicativas e significativas, pois todo o sistema do texto literário é plural, isto é, engloba em si um complexo sistema de vários sistemas de signos. Assim, podemos falar de uma comunicação literária, que englobará todos os sistemas de signos existentes no texto. E, para que essa comunicação seja efectuada, é necessário transmitir uma mensagem, mensagem essa que será estruturada a partir de um repertório de signos, que deverão ser comuns ao emissor e receptor, sendo o emissor o responsável pela enunciação da mensagem, enquanto que o receptor será responsável pela aquisição e descodificação da mesma. Já a questão da literariedade depende, exclusivamente, das características que são inerentes e reconhecidas no discurso literário. Ela passa pela transformação da palavra, da mensagem, do discurso verbal, em discurso literário. Essa transformação envolve uma quantidade de elementos e factores que ultrapassam a mensagem, e daí a função poética da linguagem. A literariedade de um texto não está só dependente de uma transformação do discurso verbal em literário pela função poética: ela encontra-se também dependente de uma série de factores históricos e sociais, pois aquilo que hoje pode ser considerado discurso literário, amanhã pode ser considerado como discurso banal e ultrapassado, para não falar em não-literário. A literariedade passa, ainda, pela questão do enquadramento receptivo e pela interpretação de cada um, pois não é suficiente a publicação de uma obra para que esta seja considerada literária, ou para determinar a literariedade do discurso. Roland Barthes classifica as obras literárias como possuidoras de uma linguagem simbólica. O seu código é organizado de tal modo que qualquer obra possui sentidos múltiplos, existindo uma língua plural. Com isto, a obra literária ganha uma certa ambiguidade. Esta ambiguidade deve ser encarada como uma propriedade relevante, desde que favoreça, no plano de uma configuração semanticamente plural, o texto literário. A ambiguidade é influenciada pela questão da leitura, pois pode ser centrado no ponto de vista do leitor. A ambiguidade, enquanto duplicidade e multiplicidade de interpretação, radica na natureza da própria linguagem, quer na sua polissemia, quer na sua homonímia.
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