Versões: Joan Margarit


Requiem


É a fotografia de um grupo de poetas.
Tem uma mancha estranha:
vem da sombra duma árvore, ou é o resto
de algum mal revelado*.
Pouca coisa, uns poetas:
são tão fracos.
Simulam ter força,
paixão, indiferença.
Mortos melhoram, dizem.
Felizes aqueles que conseguem
desvendar o mito a partir de alguns versos
e de um amarelado retrato de poetas.
Eu, que não aguentaria
nem uma hora Verlaine,
tenho pena de ti,
amigo que não me regressas
nem com versos ou retratos
onde manchas põem
a morte a marcar
o primeiro candidato
ao mito ou ao esquecimento,
duas formas, afinal, do mesmo engano.


Joan Margarit, Aguafuertes, Sevilha: Renacimiento, 1998, p. 133.

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procede de la sombra de un árbol, o es el resto/de algún mal revelado. Na tradução para português perde-se o jogo de palavras que o poeta criou com “mal revelado”, que tanto pode ser a “má revelação” da fotografia como um “mal revelado” pela fotografia. Sabendo que posso correr um grande risco: optei pela hipótese apresentada.

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