Um poema de Rui Nunes

 

não procures um pretexto para os olhos:
é assim que se constrói a cegueira. Alguns
perdem-se na doença da luz, nos caminhos
desorientados onde só encontram o desvio.
Não vás pelo território maldoso da vereda,
talvez encontres ameixoeiras, mas a sombra
apodreceu-as, e dão ameixas como pedras
rugosas. Não vás rente às silvas que escondem
os encontros: visita a fronteira: esse lugar
que não repartiu a luz

a palavra abandonou-te,
e o sentido da partilha é agora um detrito
onde a boca exausta só encontra a estranheza


em Ofício de Vésperas, Lisboa: Relógio D'Água, 2007, p. 44.

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