tag:blogger.com,1999:blog-20342148.post4273796093700114584..comments2023-11-14T16:19:48.374+00:00Comments on meia-noite todo o dia: Um poema de Teixeira de PascoaesUnknownnoreply@blogger.comBlogger1125tag:blogger.com,1999:blog-20342148.post-39579026440565687722019-10-27T15:06:04.555+00:002019-10-27T15:06:04.555+00:00CANÇÃO DUMA SOMBRA
Ah, se não fosse a névoa da ma...CANÇÃO DUMA SOMBRA<br /><br />Ah, se não fosse a névoa da manhã<br />E a velhinha janela, onde me vou<br />Debruçar, para ouvir a voz das cousas,<br /> Eu não era o que sou.<br /><br />Se não fosse esta fonte, que chorava,<br />E como nós cantava e que secou...<br />E este sol, que eu comungo, de joelhos,<br /> Eu não era o que sou.<br /><br />Ah, se não fosse este luar, que chama<br />Os espectros à vida, e se infiltrou,<br />Como fluido mágico, em meu ser,<br /> Eu não era o que sou.<br /><br />E se a estrela da tarde não brilhasse;<br />E se não fosse o vento, que embalou<br />Meu coração e as nuvens, nos seus braços,<br /> Eu não era o que sou.<br /><br />Ah, se não fosse a noite misteriosa<br />Que meus olhos de sombras povoou,<br />E de vozes sombrias meus ouvidos,<br /> Eu não era o que sou.<br /><br />Sem esta terra funda e fundo rio,<br />Que ergue as asas e sobe, em claro voo;<br />Sem estes ermos montes e arvoredos,<br /> Eu não era o que sou.<br /><br />Retirado de Antologia Pessoal da Poesia Portuguesa de Eugénio de Andrade, Campo das Letras Editores, 7ª edição, 2002, p. 320.Gato Auréliohttps://www.blogger.com/profile/09693995535118464649noreply@blogger.com