J'Accuse | Roman Polanski | 2019

 


O anti-semitismo sempre foi muito popular, principalmente entre as classes dominantes. Hannah Arendt disso nos dá conta no seu "As Origens do Totalitarismo" . Aliás, a queima de livros, ao contrário daquilo que muitos pensam, não é um exclusivo do nazismo. Émile Zola, por exemplo, foi alvo desses autos-de-fé depois da publicação da carta aberta "J' Accuse" no jornal "L'Aurore", em 1898. Roman Polanski decidiu, em 2019, debruçar-se sobre o tema do antissemitismo neste seu filme, utilizando para isso o famoso "Caso Dreyfus". É claro que o filme, e o seu argumento, pode ser uma metáfora para as acusações de que o próprio Polanski é alvo nos Estados Unidos da América (e não estou com este meu comentário a inocentar o realizador de nada, entenda-se). Mas adiante. A verdade é que Polanski realizou um belo filme. A fotografia é das melhores que vi nos últimos tempos e a interpretação de Jean Dujardin é de se lhe tirar o chapéu. Aliás, todo o elenco corresponde. Polanski sabe, como poucos, criar ambientes, quer através dos silêncios tensos entre os diálogos, quer através de uma discreta banda sonora que não abafa, por assim dizer, as cenas onde é incluída. Já em "O Escritor Fantasma" (2010) estas características estão bem vincadas (refiro este filme porque tinha sido o último Polanski que tinha visto). "J'Accuse" poderá ser rotulado como um "filme de época". E, na verdade, é um "filme de época": a nossa.

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