Terry Eagleton


Mas o marxismo não é uma questão de atitude. Classe, para o marxismo, um pouco como a virtude para Aristóteles, não é uma questão de sabermos como nos estamos a sentir, mas daquilo que estamos a fazer. É uma questão de sabermos o nosso lugar num determinado modo de produção — como escravo, camponês independente, rendeiro agrícola, detentor de capital, financeiro, vendedor da nossa própria força de trabalho, pequeno proprietário, etc. O marxismo não perdeu a sua força por os alunos de Eton terem deixado de aspirar os "h", os príncipes da casa real terem começado a vomitar na sarjeta à saída dos bares ou algumas formas mais antigas de distinção de classes terem sido anuladas pelo dissolvente universal conhecido por dinheiro. O facto de a aristocracia europeia se sentir honrada em conviver com Mick Jagger não significa decididamente o advento de uma sociedade sem classes.
(...)
As hierarquias antiquadas poderão ter dado lugar nalguns setores da economia a formas de organização descentralizadas, baseadas em redes e equipas, bem informadas, descontraídas e informais. Mas o capital continua concentrado nas mãos de um número cada vez mais pequeno de pessoas, e as fileiras dos indigentes e expropriados continuam a aumentar. Enquanto o diretor executivo ajusta as suas calças de ganga sobre as sapatilhas, mais de mil milhões de pessoas no planeta passam fome todos os dias. (...) Entretanto, alguns no Ocidente procuram no seu fervor evangélico estender a democracia liberal ao resto do mundo, no preciso momento em que o destino do mundo está a ser determinado por meia dúzia de empresas ocidentais que respondem apenas aos seus acionistas.

em Porque é que Marx tinha razão, tradução de Jaime Araújo, Lisboa: Edições 70, 2021, pp. 172 e 176.

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