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Quis a genética que tivesse olhos azuis. Mas de pouco me valeram junto das raparigas. A pior coisa que me podiam dizer era "só te queria os olhos". Apetecia-me logo mandá-las à merda. Mas nunca o fiz. Sempre fui um rapaz educado. Com algum esforço, é certo. Mas tentei sempre ser um rapaz educado. Também é verdade que, até certa idade, as raparigas não me interessavam. Passavam-me ao lado. Estava mais preocupado em ouvir música e beber submarinos nas esplanada do Vinagre, que era a única esplanada minimamente escondida dos olhos curiosos dos adultos e não só, isto porque uma das grandes vantagens de viver numa terra pequena é a seguinte: podes não saber o que fizeste na rua, mas quando chegas a casa os teus pais dizem-te. Assim, a esplanada do Vinagre cumpria a sua função: servia submarinos e estávamos escondidos. É claro que nada disto está relacionado com a minha genética. Ou talvez sim.

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