vou dormir meu amor, o primeiro
gesto vai
para o apagar do candeeiro,
andamos presos
a coisas simples como vês; a mão
a ir-se
gastando longe
da pele de leopardo, a boca a
dar-se à luxúria da saliva
e o último olhar para o abismo
entre o colchão e a carpete,
depois o medo,
o cuidado com que assinalamos a
última página
do livro
esta função bizarra dada aos dedos
como se amanhã o sangue fosse
uma clave branca convertida ao
silêncio — meu amor — há até quem ore,
quem ponha na mão um dardo
para o exorcismo da luz. e
depois este corpo sobre a mesa
de cabeceira — a água sempre
uma promessa de despertar
agarrada aos lábios; o gesto
que o fogo guarda. coisas simples
como vês, nada sobre
o anoitecer da pedra
em Cesuras, Lisboa:
Gota de Água | Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1982, p. 21.
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