(...)


Sentei-me à sombra de uma casa. Escrevi:

"Acabo de descer a Rua do Triunfo, que vai desaguar ao Largo do Eirô. Desci a caminhar, passo lento, observando cada porta, janela. Houve um tempo em que a desci várias vezes a correr, a desoras, noite dentro. Ou gritávamos ou tocávamos a todas as campainhas. O mundo era nosso com todas as suas promessas. Encontro, hoje, casas envelhecidas, com rostos envelhecidos. Janelas fechadas e "Já Era". Noutro tempo esta rua era uma das mais habitadas da vila, a par com a Rua de Santo António. Agora: é apenas um reflexo da vila no seu todo. Ruas e casas vazias. Rostos envelhecidos. Solidão vertical."

Enquanto escrevia estas linhas, há uma senhora a varrer o seu pedaço de rua. Parece querer contrariar-me. Parece dizer-me "eu ainda aqui estou".

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