António Amaral Tavares


É ofício do poeta contactar o medo
expor o avesso do rosto perante
a ferida. As coisas breves

os touros de carvão a luz
de abril que agora me apavora
viram partir as palavras
para a conclusão do nome.

De tudo o que foi e é ainda
a razão do sangue
restará sempre abrir o medo
às coxas das mulheres

ouvir à noite o uivo
das sombras geladas
o halo da luz crua

dos fantasmas esvoaçantes
dos ventres das mães.


em Movimento de Terras, Lisboa: Língua Morta, 2016, p. 130.


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