Um poema de León Felipe


Saudação

Saúdo-te, Rocinante!!
Velho cavalo sem estirpe!...
não tens pedigree!
Oh meu Deus, Rocinante não tem pedigree!
Historiadores, eruditos, detectives,
farrapeiros,
pesquisadores de fraldas e barbeiros brasonados...
Rocinante não tem pedigree!
O cavalo mais «puro sangue» da grande mitologia espanhola,
o louco centauro do delírio,
o primeiro e o mais intrépido
dos quatro cavalos da Aurora,
o único cavalo do mundo
que conhece a palavra justiça,
o que em seu espinhaço magro e sofrido conduz
a humana e divina loucura de Espanha...
a possível loucura de todos os homens,
a Grande Esperança do Mundo...
não tem pedigree!


em O Sapateiro de Van Gogh, selecção, tradução e nota introdutória de Rui Caeiro, Lisboa: & etc, 1993, p. 67.