Um poema de João Candeias


istmo

falemos do mar e das orações balbuciadas
aos ícones sombrios. falemos do mar
e das alcateias de ondas
que devoram em constante assédio
as rochas usadas para a reprodução
dos peixes-voadores.
à hora de ponta o Rossio é o lugar
dos evasivos instantâneos. falamos do mar.
passam olhares com pressa em redor
e estendem-se corpos de verão. a água cerca-te.
a água invade-te em forma de península.
agarras-te com afinco ao istmo que te liga ainda
à entrada da terra prometida


em Voz Descontínua - Antologia Mínima, Lisboa: Black Son Editores, 2002, p. 7.