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Escrevo ainda com o cheiro do borrego assado nas mãos. A partir de certo momento o borrego tem de ser comido à mão. De outra maneira perdem-se os pedaços mais saborosos, aqueles que estão agarrados ao osso. Qualquer apreciador de borrego sabe isso. E na boca o sabor ao vinho do porto caseiro que bebi. Como digestivo. Comprei-o em 2003 a um colega. Ainda hoje está bom. O almoço foi regado com vinho branco. Pelo menos o meu: Mil Caminhos. Já bebi melhor. Mas por dois euros e meio, a garrafa, não se pode pedir muito. Tudo isto para celebrar setenta anos de vida. Um vida preenchida. Parte dela passada numa fábrica, no deve-e-haver de um escritório. Mil novecentos e quarenta e cinco: ano das duas bombas atómicas. Cresci a saber isso. Setenta anos. É uma vida.

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