A morte livre é a morte leve.
Os objectos e os «bens» (estranho termo), as coisas e as casas, as posses e
as riquezas, pesam sobre a eventual decisão da morte livre, atravancam o
caminho até ela. Esse lastro exterior, de passados mortos e de um presente não
vivido, tolhe os movimentos e pesa sobre corpo e alma. Como podem um corpo
preso e uma alma que não voa estar disponíveis?
A morte livre precisa de alma leve e casa limpa para preparar a partida. O
seu caminho é o de uma alameda de luzes, mais que os corredores escuros em que
se perde, tropeça, hesita. Se possível, entre ramos despidos, e a queda no Nada
como horizonte.
em Como um hiato na respiração – diário do dia seguinte, Lisboa:
Averno, 2015, pp. 41 e 43.
1 comentário:
Talvez eu esteja errada, mas a proximidade da morte natural, digo se ocorre na velhice, despoja-nos desses ditos "bens" materiais. Por perderem efeito, julgo. Não sei se se pode chamar-lhe morte livre, mas é seguramente uma morte liberta.
Porém, essa atitude despojada que pode existir em qualquer idade. Depende apenas do ser de cada um.
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