Eugénio de Andrade


XXXVIII

Para a brancura das aves já é tarde,
só a morte não morre deste lado do muro,
só a morte
não põe fogo às suas naves.

Por um rasgão do céu uma luz baça
escapa-se da ferida,
mal iluminada a mão vacilante,
pelo chão entorna o mel.

É na orla da noite
que as veredas desatam os nós,
e uma voz de criança
suplica um fio para atar o silêncio.

Ou a palavra — lugar de esquecimento.


em Branco no Branco/Contra a Obscuridade, Porto: Fundação Eugénio de Andrade, 5ª edição, 1993, p. 50.

1 comentário:

bea disse...

Onde será que os poetas vão buscar aquele encontro único das palavras...