(...)


Passeio pelas ruas vazias. Nunca pensei escrever isto sobre uma cidade. Nas janelas a luz branca das cozinhas, palavras fechadas em alumínio. De repente, surge uma ambulância toda aflição e sobressalto. Atravesso o largo que atravesso todos os dias a caminho do trabalho. E faltam-lhe os bancos em cimento. Só as três meias luas, marcadas no chão, são prova de que algo estava naquele lugar. Neles sentavam-se arrumadores e amigos. Litrosas e amigas. Logo pela manhã. Não consigo deixar de pensar: alguém terá deles feito queixa? Continuo a caminhada. A alameda deserta de gente. Um ou outro carro passam por mim. Nada de novo. Dou mais uma volta ao quarteirão. Tudo na mesma. Nada de novo. Agora entendo melhor o spleen

1 comentário:

bea disse...

Engraçado, também passei há pouco tempo num lugar - possivelmente um jardim; já me lembrei, foi na entrada do metro - onde era nítida a meia lua de um banco. Lembro-me de ter pensado como seria ele não haver para quem costumava sentar-se ali a descansar; ou apenas na conversa que é uma coisa cada vez mais admirável. Não deviam retirar-se os bancos desta vida. Ajudam ao caminho.