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E lá fui à feira do livro de Lisboa. E lá confirmei aquilo que temia: que é, de facto, uma feira. Mas o que mais me assustou foi ver aquela terrível foto de Herberto Helder aumentada exponencialmente (e digo terrível porque, na minha opinião, é muito má) ao lado da fotografia de Saramago e, mais à frente, a de José Luís Peixoto e de José Eduardo Agualusa. Concluí: estão todos no mesmo saco (porque estão todos no mesmo grupo editorial). Ou, pelo menos, é isso que nos querem dar a entender. Já não basta ir a uma livraria generalista e ver Céline ao lado das Sombras; ou ver Camus ao lado de Isabel Allende e Paulo Coelho. Agora podemos ir a uma feira do livro e confirmar que, para um grande grupo editorial, Herberto e Saramago estão no mesmo patamar de José Luís Peixoto e José Eduardo Agualusa. Mas, como é óbvio, isso não é novidade nenhuma. Eu é que ando muito distraído.

3 comentários:

bea disse...

Francamente não vejo motivo para indignação. Se na vida as pessoas andam pelas mesmas ruas, por que não hão-de estar juntas as fotos de escritores? Quem o leia pensará que é apologista de um apartheid cultural, os melhores todos juntos, ali. Não será fraqueza democrática?! Resultado de um jejum...tem que se alimentar, já há por aí muita gente minguada em apetite democrático.

manuel a. domingos disse...

penso que me fiz entender.

o perigo que se corre é: os leitores pensarem que ao lerem José Luís Peixoto estão a ler alguém com a mesma qualidade de Herberto Helder; ou Saramago. Ou outro qualquer.

e depois há, ainda, a falácia: quem lê José Luís Peixoto lerá um dia Herberto Helder; ou Camus; ou Saramago; ou Bernhard; e por aí em diante e assim sucessivamente.

Carlos Natálio disse...

Aos olhos das ricas notas de euro são realmente todos iguais. Os critérios de qualidade e de distinção não interessam muito a um sistema que se quer homogéneo e com o capital a circular fluido e sem pudores. É pena, de facto.