Está muito calor. Lisboa
cheia de sol e quente é outra cidade. Com a greve do metro é o caos. Mas outra
cidade. Apanhei um autocarro até ao Marquês (por aqui ninguém diz Marquês do
Pombal) e fiz o resto do percurso, até à Baixa, a pé. Bebi uma cerveja pelo
caminho e uma ginja no número sete das Portas de Santo Antão (cumprir o cliché
faz sempre bem). E ainda tive tempo para um branco da região do Tejo. Fresco e
frutado. Muito bom. Uma agradável surpresa: Badula. Cá dentro (uma daquelas
garrafeiras que agora estão na moda, pois é necessário fazer o culto do vinho;
como se nós, portugueses, precisássemos de tal coisa) está mais fresco do que
lá fora e, a bem da verdade, o vinho também ajuda. O copo saiu a dois euros, o
que não é nada barato. Mas penso que mereço. Peço outro. E passados alguns
minutos o vinho começa a fazer efeito. Pudesse sempre andar nesta espécie de
letargia. Só que a questão, a verdadeira questão, aquela que me é colocada
todos os dias: posso? A resposta é simples: sim. Devo? Aí é que a porca torce o
rabo. É nesse momento que penso naqueles que passam o dia a litrosas e a vinho
de pacote. Tudo à temperatura ambiente, que no supermercado não há nada fresco.
Penso na vida que levam entre os intervalos a arrumar carros e as baguetes de
atum com óleo e tudo. E olho para eles e as barrigas dilatadas, a pele
estragada, o olhar turvo, a boca destravada — é uma puta sim senhor! e não há
mais puta do que ela! a cabra deve-me cinco paus desde Janeiro — enquanto o
braço arruma o BM topo de gama que lhe estende a moeda necessária. Penso-os e
penso-me. Uma porra, é o que é.
2 comentários:
O vinho cai-me um bocado mal; não gosto muito do cheiro; mas talvez me fizesse bem beber uns copos. Não sei se devo, era capaz de vomitar, além disso faz-me dor de cabeça. Por estas coisas todas nunca consigo sequer ficar atordoada. Ou naquela fase terna e lamechas que não me parece má de todo.
fase terna e lamechas: depende de quem estiver ao seu lado. para mim a fase terna e lamechas sempre foi uma fase chata. para mim e para os outros
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