Raoul Vaneigem

   
  Quando homens políticos duma confrangedora mediocridade vos convidam a submeterem-lhes as vossas reivindicações, acaso não sentirão a satisfação de vos descobrir tão inteligentes como eles, se não do ponto de vista financeiro pelo menos em inteligência e imaginação? Duma coisa não duvidem: ao baixo preço a que vocês se saldam, esses políticos, sem regatear, concedem-vos o direito deles dizerem mal em grandes manifestações catárticas.
   A pior resignação é aquela que a si mesma atribui o alibi da revolta. Terão vocês acaso tão pouca estima pelas vossas próprias pessoas que nem tempo tenham para identificar os vossos desejos viventes? Que nem saibam que vida desejam levar? Não pressentirão vocês outra opção que não seja a da alternativa, que vos propõem oficialmente, entre a pobreza do rico e a miséria do pobre?
   E será preciso que o desolador futuro duma vida passada a catar dinheiro mês a mês vos pareça luminoso só porque a sombra do desemprego cresce por toda a parte onde reina o sol mediático do pleno-emprego? Nada mata mais seguramente uma pessoa do que isto de contentar-se com sobreviver.


em Aviso aos alunos do básico e secundário, tradução de Júlio Henriques, Lisboa: Antígona, 1996, pp. 43-44.

1 comentário:

bea disse...

É um extraordinário aviso. Que os alunos do básico não entendem e os do secundário só parcialmente. Mas os adultos que os preparam têm o dever de divulgar. Porque, mesmo que o não conheçam, se ainda é o espírito de Abril quem os guia, assim sabem e sentem. E transmitem.