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© manuel a. domingos, 2015

Estão todos os dias no mesmo local. De manhã à noite. Não são sempre as mesmas pessoas, é certo; mas há sempre alguém com panfletos que fazem perguntas. Não se dirigem a quem com eles se cruzam. Ou: a mim nunca se dirigiram. Talvez a minha cara de manhã seja de poucos amigos. Talvez a minha cara seja de poucos amigos a qualquer hora do dia. Hoje, um dos panfletos pergunta: "Como ser feliz?". É uma pergunta que muitos gostariam de responder, ou saber a resposta. Conheço poucas pessoas que não querem ser felizes. E mesmo aquelas que não se preocupam muito com a felicidade e não querem ser felizes (ou não se preocupam se são felizes ou não), querem ser felizes, mesmo que seja na sua infelicidade, o que não é assim tão estranho. Um exemplo metido à papo-seco: uma vez ouvi uma especialista em musicoterapia dizer que um paciente que esteja deprimido não tem necessariamente que ouvir música alegre; pode muito bem ouvir um nocturno de Chopin e isso mudar o seu dia para melhor. Por que razão não poderão os infelizes ser felizes na sua infelicidade? Por que razão temos de ser todos sorrisos e dentes brancos? Por que razão? Porquê? Vem isto tudo, ou talvez não, a propósito deste excerto que encontrei no blogue do Henrique (deste outro texto):

Ser feliz é uma responsabilidade social, como bem o sabem todas as pessoas que mantêm padrões mínimos de generosidade. Noutros tempos também eu me revoltei contra os cânones instituídos e declarei-me livre do espartilho da felicidade como meta obrigatória e padrão mínimo de inferência de uma normalidade pacificadora. Mas depois compreendi que o direito à infelicidade é conquista que não justifica a convocatória de um exército. Apresentei-me nas fileiras do escrutínio das almas com uma bandeira branca e optei por ser feliz apenas para que me deixassem em paz.

Não quero, de nenhuma maneira, contribuir para nenhuma discussão ou debate ou seja o que for. Apenas dizer que hoje de manhã li o texto em questão e que o mesmo me deixou a pensar. E isto de pensar, nos dias que correm, não é para todos. Posso, desde já e à minha maneira, considerar-me um privilegiado. E os blogues ainda servem para isto: para me porem a pensar. Ainda bem.

2 comentários:

Cuca, a Pirata disse...

Se pudesse imaginar que iria ter referências tão ilustres, teria ao menos tido o cuidado de acertar as concordâncias verbais :)
Isto é quase o mesmo que ser apanhada de pijama.
Obrigada.

manuel a. domingos disse...

nada a agradecer