Aos vinte e um anos tinha
poucos interesses. Alguns dos que eu conhecia dedicavam-se à arte chinesa.
Outros especializavam-se em casanovices. Eu, fruto de muitos equívocos,
especializei-me em submarinos nocturnos na esplanada do Vinagre. É claro que as
manhãs e as tardes tinham de ser ocupadas. As manhãs eram ocupadas com idas à
Biblioteca Municipal, onde procurei ocupar os tempos livres da melhor maneira
possível, ora catalogando e arrumando livros nas respectivas prateleiras, ora
lendo. As tardes eram o rio, o sol e algumas mamas espetadas, pois a água do
rio (mesmo em Julho) não está para mamilos sensíveis. Livros: foram lidos
alguns. Mas foi, essencialmente, um ano herbertiano. Ou melhor: um Verão. E,
por vezes, era difícil olhar para a realidade com os mesmo olhos, sem ter
algumas palavras a ressoar, a dar palmadas na nuca. Catrapum! E assim
sucessivamente, até que a ordem estabelecida por compêndios e gramáticas desaparece,
dando lugar a algo que não conseguimos definir. Mas, verdade seja dita, para
quê definições?
1 comentário:
A especialização está demais. Nem com uma lupa encontraria melhor.
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