No segundo aniversário da Medula*


Boa tarde a todos e obrigado pela Vossa presença

Tentarei ser breve, banal e usar uma série de chavões, ou clichés (como dizem os franceses).

Há muito que me questiono sobre a utilidade da poesia: para que serve, afinal? E hoje faço outra pergunta: para que serve, afinal, uma editora de poesia? E por que razão nos dizemos independentes?

A Medula faz hoje dois anos. Em dois anos publicámos seis livros. Apresentamos hoje o número sete e penso que não há melhor maneira de comemorar o nosso segundo aniversário. No entanto, a pergunta mantém-se: para que serve, afinal, uma editora de poesia?

A resposta poderá ser a seguinte: resistência. Sei que é um argumento banal, um chavão, um cliché. Mas, estando eu desempregado quando “fundámos” (eu e a Carla) a Medula; estando desempregado agora, que perante vós falo; sabendo que nunca iremos viver às custas da Medula e que nem o queremos fazer (embora a outra medula nos seja muito essencial); sabendo que publicamos hoje o número sete, mas não sabemos quando poderemos publicar o número oito; que outro motivo poderá existir senão aquele da resistência? Resistir. Resistir contra as camelices do mundo, contra a canga, contra os invertebrados que dizem ter coluna ― esquecendo que o essencial é ter espinha.

E independentes? Sim, independentes. Porque não dependemos de distribuição comercial; não dependemos de críticas nos jornais (por opção não enviamos livros a críticos, pois, como Joaquim Castro Caldas: “o poeta tem frigorífico: o editor tem frigorífico); e porque não somos uma vanity press, não dependemos da carteira dos nossos autores. Daí sermos independentes. E resistimos.

Resistimos apoiando-nos, suportando-nos nos amigos: Andreia Pires, Carlos Veríssimo, Maria Sousa, Miguel de Carvalho, Nuno Abrantes, Ricardo Álvaro, Sandra Cruz, Seixas Peixoto. Muito obrigado.

Por último, uma palavra de agradecimento ao Jorge Fragoso ― que me deu a conhecer a poesia do António ―; ao António ― por ter aceitado o desafio de ser um autor Medula; à Catarina Costa ― a amabilidade e disponibilidade que demonstrou para apresentar o livro.


Mais uma vez: muito obrigado pela Vossa presença.


*texto lido ontem ao início da apresentação de Talvez seja essa certeza de António Amaral Tavares.

1 comentário:

Carlos Natálio disse...

A poesia vê-se perseguida, também ela, por essa pergunta terrível de cariz utilitarista numa sociedade em que tudo se mede e tudo se comercia, "para que serve?" Além da resistência, ou sobretudo dentro dessa resistência, a poesia "não serve", "não serve ninguém, nem serve para nada".
Mas existe, e nós com ela.
Essa existência, a dele e a nossa, é aquilo que mais de um propósito de pode aproximar, quando falamos de poesia.