Um poema de Eduardo Valente da Fonseca


Damos um passo na cidade

Damos um passo na cidade e logo
nos espantamos de ainda estarmos vivos.
Para quê e porquê? perguntamos excitados.
As horas e o dinheiro nos respondem
e é então que descobrimos o mistério
de não podermos andar com os bolsos cheios
de flores de pássaros e pão
a despejá-los sem medo de ofender
pelos homens e mulheres silenciosos
regressando do trabalho pelas ruas.

em A cidade e os homens e outros poemas (1956), retirado Antologia da Novíssima Poesia Portuguesa (org. Maria Alberta Menéres e E.M. de Melo e Castro), 2ª edição revista, actualizada e com uma nova introdução, Lisboa: Livraria Morais Editora, Colecção Círculo de Poesia, 1961, p. 307.