Fiódor Dostoiévski


Não são os milagres que empurram o realista para a fé. Um verdadeiro realista, se for descrente, encontrará sempre em si a força e a capacidade de não acreditar em milagres e, caso um milagre se lhe apresente como um facto irrefutável, antes não acreditará nos seus sentimentos do que admitirá o facto. Mesmo que o admita, admite-o como facto natural, só que até então desconhecido para ele. Num realista, não é a fé que nasce em resultado de um milagre, mas um milagre por causa da fé. Se um realista ganhar fé, terá, precisamente em função do seu realismo, de admitir também o milagre.


em Os Irmãos Karamázov, tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra, Lisboa: Editorial Presença, 4ª edição, 2012, p. 39.

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