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A verdade é que um gajo sujeita-se. Anda à chuva e sujeita-se. Aqui fica, para memória futura, a melhor crítica à poesia que escrevo. Entenda-se, no entanto, que nunca dei a ler inéditos meus (ou qualquer outra coisa) ao Senhor em questão. Entenda-se, também, que o Senhor em questão enviou um manuscrito (via e-mail Medula) para apreciação e o mesmo foi recusado, pois não se enquadrava na linha editorial nem no meu gosto (e isso foi dito e justificado: para o meu gosto pessoal — e repito: gosto pessoal — é uma poesia demasiado adjectivada e com metáforas mirabolantes que nada acrescentam ao poema). Entenda-se, também, que o Senhor em questão é autor publicado pela Chiado, onde o génio anda de braço dado com a factura final. Aqui vai:

tive a amabilidade, liberdade e curiosidade de ler alguns dos seus inéditos, e com todo o delicado e doce respeito que tenho por todo o tipo de poesia e pelas diversas linguagens poéticas existentes (contudo não tenho que apreciá-las ou gostar delas ou senti-las)... foi-me interessante assistir em emissão directa ao assassinato da poesia portuguesa actual. aquilo que escreve, nem tem força de fogo, nem rescaldo, nem imaginação, nem tampouco sinceridade... é insípido de imagens metafóricas ou dor ou sofrimento ou vida ou morte ou sensibilidade ou solidão ou mesmo sangue a pulso como se bate, e quebra desde a terra até ao cosmos...

Já me disseram que isto de responder aos e-mails, com manuscritos para apreciação, irá passar. E eu acredito que sim. Mas, até esse dia chegar, irei tentar ser o mais honesto possível com as pessoas que me confiam originais e que merecem uma resposta. É claro que poderão não ficar contentes com a minha resposta. E eu poderei ler, depois, coisas deste género:


não querendo ser indelicado, dou-lhe o nobre conselho de reler ou ler toda a obra do arthur rimbaud e todos os restantes poetas malditos franceses, muito herberto helder e muito al berto... regressem "lázaros" os mestres das metáforas e adjectivações: a bela morte

coitados dalguns poetas desta nova geração, desculpai-os oh natureza! porque não sabem o que fazem ou escrevem! não sentem! são árcticos! não desfazendo... é triste. fiquei amplamente desapontado. muito bem continue a sua marcha...

eu continuo e trabalho arduamente para o mito: o meu próprio... e admito que não sou ninguém. nem sequer existo. penso e escrevo a morte da vida e a vida da morte! eis o meu inteiro silêncio.

Agora, caros Anónimos, têm aqui material para os Vossos comentários.

3 comentários:

hmbf disse...

O que são "poetas malditos franceses"?

manuel a. domingos disse...

segundo o Senhor em questão: Rimbaud, Baudelaire, Conde de Lautréamont, Verlaine e mais alguns que não nomeia e que eu desconheço.

Anónimo disse...

Quem te manda a ti...