50 livros + 30




Na actual literatura portuguesa, poucos são os romancistas, ou contistas, que me interessam. Exceptuando meia dúzia de nomes: José Riço Direitinho, Gonçalo M. Tavares (O Reino), Rui Manuel Amaral, Afonso Cruz, Pedro Rosa Mendes: poucos são aqueles que despertam em mim a vontade de os ler. Baía do Tigres têm a particularidade da difícil "catalogação": romance? crónica? crónica-romance? literatura de viagens? A comparação com Chatwin poderá ser o caminho mais fácil (apesar do paralelismo ser óbvio). Gosto de ver este livro de Pedro Rosa Mendes como uma espécie de non-fiction novel, à maneira desse fantástico Os Exércitos da Noite, de Norman Mailer. O autor consegue, numa simbiose cuidada, relacionar a vertente real com a ficção. Para isso o autor introduz na “ficção” entrevistas gravadas, relatos históricos (em que o autor cita as fontes), receitas para curar diversas maleitas, histórias anónimas de gente anónima, excertos de outros livros e a sua viagem (propriamente dita). No entanto, Pedro Rosa Mendes nunca perde a noção de que está a escrever sobre Homens e Mulheres. O autor procura, em certa medida, demonstrar que o absurdo do mundo (esse que nos chega através ou dos jornais ou da televisão — e hoje cada vez mais através da internet) é apenas um motivo, uma desculpa, para quem está sentado no conforto do seu lar poder dizer que as coisas vão mal lá fora. Ao lermos Baía do Tigres ficamos a saber que o absurdo, como tudo na vida, é relativo. Ficamos a saber que absurdo, para alguns e em alguns lugares do mundo, é ver água a correr das torneiras.

Sem comentários: